Qual a diferença entre a plaquinha e o DIO Neurofisiológico para o tratamento da ATM/DTM?

Muitas das vezes que falamos sobre o DIO (dispositivo intra-oral) que é utilizado como parte do tratamento neurofisiológico da ATM para nossos pacientes, eles nos perguntam sobre se é o mesmo que a chamada “plaquinha” utilizada em outros tratamentos. Tecnicamente, a plaquinha também é um DIO, e tecnicamente a plaquinha também é um dispositivo que é construído de modo personalizado para cada paciente e deve ser ajustado algumas vezes. Mas então, será que há alguma diferença?

Qual a diferença entre a plaquinha e o DIO Neurofisiológico?

Sim, e a diferença entre a plaquinha e o DIO Neurofisiológico (chamarei assim apenas para diferenciar da plaquinha, que também pode ser considerado um tipo Dispositivo Intra-Oral, mas construído com base em preceitos diferentes) é uma diferença muito grande e muito importante. Neste post buscarei esclarecer a diferença que pode mostrar porque a escola neurofisiológica de tratamento da ATM nunca usa plaquinhas, mas sim, um dispositivo construído neurofisiologicamente.

Para entender a diferença, primeiro você deve ter em mente o sistema mastigatório. Fazem parte do sistema mastigatório as seguintes estruturas:

  • Os dentes, superiores e inferiores;
  • As estruturas ósseas, maxila e mandíbula;
  • A ATM, articulação  entre a mandíbula e o crânio, que possui em seus elementos ligamentos e discos articulares;
  • E os músculos, elevadores e abaixadores da mandíbula e os estabilizadores da cabeça;

Todos estes quatro elementos, sem excessão, são fundamentais para compreender o funcionamento sadio do sistema mastigatório. Para ter uma breve ideia, observe o vídeo abaixo. Ele mostra uma pessoa fazendo os movimentos da mandíbula e depois mostra um modelo do crânio humano simlando os mesmos movimentos, mas com a ajuda de uma mão.

A pergunta é: por que com a ajuda de uma mão? Observe o vídeo abaixo:

É necessário a ajuda de uma mão porque neste modelo não há nem músculos, nem ligamentos e discos articulares. Há apenas o que seria a estrutura óssea da mandíbula e os dentes. Ou seja, somente uma parte do sistema mastigatório. Pense: como você move a boca? Ora, obviamente quando decide mover e enviar um comando do cérebro aos músculos da face, para que estes atuem realizando o movimento desejado. Porém, muitos dos que possuem uma artropatia (doença articular) na ATM acabam tendo que lidar com sintomas como uma abertura limitada, estralos ou mesmo boca travando. E isso não é por causa dos dentes, mas muitas vezes por causa do disco articular deslocado ou por causa de um disco já totalmente danificado.

A ATM deve ser diagnosticada e tratada com base em todo o sistema mastigatório

O ponto é: não é possível ver a ATM apenas sob a perspectiva dos dentes, ou apenas dos ossos, ou apenas dos músculos. A ATM tem que ser vista como deve ser visto sob a perspectiva de TODOS os elementos que compõe o sistema mastigatório. Por essa razão, não há, dentro da visão da escola neurofisiológica mensurativa da ATM, algo como DTM muscular e DTM articular.

Quando você tem uma artropatia da ATM, tem-se um comprometimento dos espaços articulares, posicionamento dentário e envolvimento muscular. Ou seja, uma artropatia que gera como sintomas dor muscular, ou dor articular, uma disfunção articular, etc, não é algo que afeta apenas o posicionamento dos dentes, ou apenas um músculo específico. É algo que afeta todo um sistema mastigatório, e por isso todo o sistema deve ser considerado na hora do diagnóstico e tratamento.

As plaquinhas protetoras de dentes e relaxantes musculares são feitas sobre modelos com registros de posição baseados em dentes e ou mesmo na articulação de forma manual. Mas estas plaquinhas não consideram o funcionamento dos músculos, a programação neurológica relativa a posição da articulação, ligamentos  discos. Em geral são feitas considerando apenas algo que representa talvez 1/3 do sistema mastigatório total.

As plaquinhas são construídas através de um processo mecânico e o DIO neurofisiológico através de um processo fisiológico

Mas diante do quadro de uma Artropatia da ATM, os movimentos articulares ficam comprometidos. Os movimentos não ficam estáveis, sejam pelas modificações das estruturas articular, seja pela dor que gera a patologia. Então o registro somente da posição mandibular não é confiável. Os dentes por sua vez, diante das artropatias da ATM, também alteram suas posições, por desgastes, apinhamentos, ausências, etc. E por isso também não é confiável posicionar a mandíbula com base na posição dos dentes.

Já os músculos, porém, guardam fisiologicamente a posição tridimensional da mandíbula e também a posição ideal da articulação (exceto quando estão comprometidos por conta das aplicações de BOTOX, que é uma substância que lesiona os tecidos) .

Buscamos assim, a posição neurofisiológica da mandíbula e da articulação em função da musculatura e dos registros da memória neurofisiológica que eles possuem. Para isso fazemos uma desprogramação muscular e em sequência uma estimulação muscular onde determinamos a posição mandibular muscular. Obtém-se ai, o espaço patológico, que o DIO Neurofisiológico (dispositivo intra oral) vai ocupar para gerar harmonia muscular, articular e dentaria.

O DIO Neurofisiológico preenche o espaço patológico do paciente enquanto outras placas não

Dai a personalização do dio neurofisiológico, já que ele vai preencher o espaço patológico de determinado paciente, enquanto que as outra plaquinhas personalizadas apenas com base na posição dos dentes ou da mandíbula não preenchem este espaço. E isso tudo é precedido do diagnóstico da patologia da ATM, feito com exames clínicos, história clinica, exames bioquímico, exames de imagens, avaliação muscular, etc.

No vídeo abaixo, é possível ver o Dr. Nick Yiannios, dos Estados Unidos, entrevistando o Dr. Marcelo Matos e é possível ver um desafio feito pelo Dr. Marcelo Matos aos dentistas. O Dr. Marcelo Matos sugere aos dentistas que tratam de pacientes com mordida aberta (classe II) que façam uma ressonância da ATM, pois é muito provável que muitos destes tenham uma mordida aberta como sintoma de uma artropatia da ATM. Confira abaixo (ative a legenda no youtube para ver com legendas em português):

Por isso não basta apenas considerar os dentes ou os ossos. Se a mordida é sintoma de uma artropatia que afeta a ATM, então é fundamental considerar todo o sistema para poder elaborar assim o DIO neurofisiológico e realizar o tratamento da ATM. Por essas razões, uma plaquinha comum (confeccionada através de um processo puramente mecânico) é diferente de um DIO neurofisiológico.

Você usa algum tipo de plaquinha ou um dio neurofisiológico? Qual a sua experiência?