Dor de cabeça e ortodontia

Dor de cabeça: colocar ou não aparelho?

Recentemente, um trabalho publicado pelos colegas da área de DTM e dor orofacial Reynaldo Leite Martins Jr, Juliana Stuginsk Barbosa e a, então estudante de medicina, Florence Kerber, merece uma atenção especial  não só por parte de entidades de ensino e profissionais da saúde, mas das pessoas que sofrem com dores crônicas orofaciais.

De maneira resumida, em um endereço da internet, foi criado um caso fictício de dor crônica onde foram listados os sintomas de uma migrânea sem aura, um tipo específico de enxaqueca e, então, várias cartas foram enviadas para mais de 1.200 ortodontistas de todo o Brasil, pedindo que analisassem o caso e decidissem qual seria suas respectivas abordagens. Para completar foi acrescentada uma mordida cruzada e outros pequenos problemas dentários que não possuem NENHUMA relação conhecida com o quadro de dor da migrânea.

Infelizmente, as suspeitas dos autores se confirmaram e a grande maioria dos ortodontistas ofereceram o tratamento ortodôntico para a mordida cruzada com a finalidade de  tratar a migrânea!

Alguns dados preocupantes do estudo:

  • 59% dos ortodontistas que participaram, acreditam que a má oclusão dos dentes explicavam a dor de cabeça (migrânea sem aura)
  • 58% dos ortodontistas que propuseram tratamentos inadequados para o caso em questão, afirmaram fazê-lo com base em conhecimentos adquiridos em graduação e pós-graduação. Isso é alarmante, pois indica que os cursos de especialização e aperfeiçoamento de ortodontia, não estão atualizando os dentistas quanto ao conhecimento científico atual em dor crônica
  • Apenas 36% dos ortodontistas descreveram procedimentos adequados, como o de suspeitar que o problema não seria odontológico e/ou encaminhar  para um neurologista

Isso traz à tona um questão importante,  independente do caso fictício do artigo em questão ser sobre migrânea (enxaqueca) sem aura: quão preparado estão os ortodontistas brasileiros para lidar com dores crônicas da cabeça e da face,  como as da ATM, dos dentes ou saber diferenciá-las de um problema neurológico como uma neuralgia do trigêmeo?

Ora, imaginem a implicação desses aspectos para o dia a dia das pessoas que sofrem com dor orofacial…

O paciente vai no médico clínico, com algum tipo de dor crônica na região da cabeça e face,  é avisado por este que deveria procurar um ortodontista, que por sua vez oferece um tratamento que em média dura aproximadamente três anos,  é irreversível e  NÃO IRÁ TRATAR A DOR EM QUESTÃO!!! Em alguns casos, acabam tendo como recomendação a realização também de cirurgia ortognática ou até da própria ATM, sendo que estes seriam ainda mais inadequados pelo risco de sequelas e pela falta de respaldo da indicação para este tipo de procedimento!

Portanto, se você sofre de DTM,  cefaléia ou problemas similares  e o seu médico solicitou ir em um ortodontista,  tenha em mente que o tratamento que você talvez necessite, pode nem ser da área odontológica, mas caso seja, pode não ser via ortodontia, pois existem procedimentos próprios  para DTM, dores orofaciais e cefaléias.