Tratamento de DTM muscular e cuidados paliativosOs tratamentos convencionais mais comumentes recomendados para as disfunções da ATM são paliativos que atuam com foco no controle da dor.  Essa abordagem particularmente endossada pela maioria dos profissionais dentistas especialistas em DTM e dor orofacial é baseada em um antigo sistema de classificação (ponha antigo nisso!), que subdivide as disfunções em dois grandes grupos: as DTM´s articulares e as DTM´s musculares. Embora essa divisão apresente vários problemas que eu já comentei em outras postagens, ela segue muito popular entre boa parte dos dentistas e determina a forma mais comum de tratamento da ATM. Mas como funciona essa abordagem?

Para quem segue essa linha de trabalho, a avaliação é feita baseada primariamente nas características  da dor e secundariamente em outros sinais e sintomas, seguindo um protocolo de diagnóstico baseado no questionário conhecido como RDC-TMD e, muitas vezes, sem o suporte de exames como a  ressonância magnética, confiando apenas no resultado do questionário. Com isso o paciente é classificado como portador de DTM muscular ou articular, que possui alguns subgrupos.

Os pacientes que possuem “DTM muscular” normalmente são tratados com aconselhamento na tentativa de reeducar os hábitos não saudáveis como roer unha, morder caneta, mascar chicletes, apertar os dentes constantemente, dentre outros, termoterapia, que é a aplicação de compressas térmicas (geralmente calor, mas pode ser o frio), exercícios de alongamento dos músculos da mandíbula, terapia com laser, Jigs e as famosas placas de Michigan, normalmente  quando o paciente tem bruxismo e dores associadas ao apertamento e/ou rangido dos dentes. Quando essas medidas não promovem a melhora do caso, o dentista normalmente segue com aplicações de injeções em pontos gatilhos dos músculos (trigger points) com anestésicos ou mesmo sem nenhuma substância, o chamado agulhamento seco e, também muitos analgésicos e outras medicações para a dor…

Outra medida bem comum nesse tipo de abordagem é  pedir ao paciente que evite apertar os dentes mantendo-os afastados conscientemente, mesmo que tenha que espalhar bilhetes pela casa para servir de lembrete. Às vezes, recomendam até mesmo colocar um alarme no celular para ficar lembrando de afastar os dentes a cada 20 ou 30 minutos! Dá para acreditar?! Não seria melhor restabelecer a fisiologia ao ponto de poder morder e não sentir dor?

Quando o paciente é classificado como possuidor “DTM articular”, o dentista tenta encaixá-lo em uma subdivisão associada à posição do disco (deslocamento dos discos com ou sem redução), presença de alterações inflamatórias ou degenerativas como a osteoatrite, osteaotrose e a artralgia. Esses subgrupos geralmente são tratados com variações dos procedimentos que já mencionei acima, como crioterapia (compressas de gelo), exercícios diversos para a mandíbula como, por exemplo, a abertura forçada da boca  para ganho de amplitude ( quando há travamento), medicações,  placa de Michigan para os que bruxam ou possuem apertamento dentário, placas de reposicionamento anterior,  infiltrações de corticóides e outras substâncias na própria ATM e também muitas medicações anti-inflamatórias.

Como não poderia ser diferente, já que a abordagem é apenas paliativa, a frequência de pacientes  que não melhoram a longo prazo com essa abordagem é tão grande que alguns pesquisadores criaram a “categoria” de dor muscular persistente para  se referir a esses pacientes. São pacientes que trocam bastante de dentista, fazem muitas placas e agora, com a moda do botox, estão sendo tratados com essa substância, que pode até trazer um alívio temporário, mas não resolve a longo prazo.

O principal problema de todas estes recursos terapêuticos mencionados é que nenhum deles é voltado  a correção da causa do problema e restabelecimento da saúde. Muitas vezes silenciam a dor enquanto que o paciente segue com problemas que geram outras consequências além da dor como, por exemplo, as reabsorções condilares que resultam em retrognatismo (um encurtamento da mandíbula), recidivas de tratamentos ortodônticos e cirúrgicos, assimetrias e outras coisas. Além disso, a dor costuma retornar em algum momento ou se modificar, gerando sintomas confundidos com doenças como a enxaqueca e a cefaléia tensional.

De fato, algumas vezes,  o caso é bastante difícil de resolver e o tempo que leva para o dentista conseguir algum resultado pode ser longo e alguns pacientes podem desanimar e até desistirem de continuar, ou o que é pior, mergulham em desespero e uso indiscriminado de medicamentos.

Eu normalmente não uso  esse tipo de abordagem ( e quando o faço é apenas como procedimento auxiliar), até porque a grande maioria dos pacientes que chegam para mim já passaram por essa via cruces e não obtiveram maiores resultados.

Na próxima postagem, explicarei um pouco sobre a abordagem em patologia da ATM, que busca justamente contornar esses problemas e chegar a um tipo de resultado que vai além do controle da dor, obtendo um restabelecimento da saúde com recuperação das lesões e estabilidade dos resultados.

Até lá!