Em uma postagem anterior, escrevi sobre as limitações da maneira tradicional de classificar as DTM’s em  DISFUNÇÃO MUSCULAR e/ou ARTICULAR e mencionei que isso leva a tratamentos sintomáticos, de caráter apenas paliativos, que podem ajudar, é verdade, mas  atuam apenas no âmbito da dor, em muitos casos a doença por trás da disfunção segue adiante e gera muitos desconfortos e sofrimentos aos pacientes.

A idéia de tratar sintomaticamente parte do princípio de que a disfunção da ATM se resolve sozinha com o tempo, logo, bastaria apenas aliviar os sintomas e esperar que tudo fique bem.  Acontece que mesmo sem dor, pode existir ARTROPATIA (doença na articulação)! Estas podem gerar travamentos da mandíbula, luxação, processos degenerativos de diferentes tipos, sequelas no crescimento e desenvolvimento da face, alteração da oclusão e muitas outras coisas, de modo que, pensar em solucionar apenas a DOR e deixar o restante acontecer é uma visão muito limitada da questão.

Necrose do côndilo direito visto em uma RM

Necrose do côndilo direito visto em uma RM

Uma situação comum no dia a dia do meu no consultório exemplifica essa questão: uma paciente  me procurou já com um “diagnóstico” de DTM muscular, por sentir dores na face em região dos músculos mastigatórios, que piorava com a mastigação de alimentos duros, com presença de pontos gatilhos, mas sem estalidos, crepitação, dor à palpação da ATM ou outro sinal que levasse ao “diagnóstico” de DTM articular pelas abordagens tradicionais. Essa paciente já havia sido tratada sem sucesso com compressa morna, exercícios para a mandíbula, placas miorrelaxantes/estabilizadoras (Michigan)  e várias outras recomendações  típicas dessa abordagem que já mencionei nesse tópico aqui. No entanto, uma avaliação mais detalhada, mostrou que havia uma artropatia temporomandibular séria com necrose do côndilo!!!  Ou seja, existia um problema que não foi identificado e que interferia diretamente na maneira como os músculos trabalhavam e  causavam a dor muscular que era, portanto,  uma consequência.

Agora, pare para pensar: como um tratamento sintomático, como a compressa térmica, exercícios, medicamentos analgésicos, fisioterapia e outros paliativos iriam resolver uma NECROSE  do côndilo mandibular???  Resposta:  Não iriam!!! Muito pelo contrário, algumas medidas como laser, termoterapia (calor) e ultrassom (fisioterapêutico) poderiam até piorar a situação!!!

Mas o que há de novo?

Podemos mudar o ponto de vista e avaliar o caso em termos de PATOLOGIA DA ATM, ou seja, estudando a doença por trás da disfunção.

Em particular, no caso citado,  foi  necessário fazer uma investigação imunogenética  e laboratorial para identificar a causa da necrose e a partir daí realizar um tratamento bastante específico, atuando não só na origem (nos mecanismos que levaram à necrose) como também nos problemas estruturais e funcionais que a própria necrose do côndilo causou nos maxilares e na face. Assim,  com um tratamento correto,  não-cirúrgico e não-invasivo, foi  possível corrigir  o funcionamento muscular e restabelecer a fisiologia de modo que, não só a dor regrediu, como foi possível mensurar a melhora da musculatura e acompanhar a recuperação do côndilo. Atualmente, a paciente encontra-se com o côndilo parcialmente recuperado e com tudo DOCUMENTADO com exames de imagem.

Esse tipo de abordagem só é possível quando se troca o ponto de vista da DTM pelo da patologia da ATM, que requer um treinamento diferenciado do profissional, mesmo que ele  já seja especialista em DTM e dor orofacial. Essa formação ocorre através dos programas de Mini Mega Residência Clínica em Patologia da ATM, desenvolvido pelo professor Jorge A. Learreta, da Argentina e apoiado pela Associação Brasileira de Patologia Crânio Mandibular – ABCM, pela divisão de Estudos da ATM da International Association for Orthodontics – IAO e pelo Ge-JAL (Grupo de estudos do Prof. Jorge A. learreta) com sede em Buenos Aires, Argentina.

Além disso,  para se manter atualizado, o profissional precisa se reciclar constantemente devido à grande quantidade de avanços científicos e tecnológicos da área. É  por isso, que além da formação em patologia da ATM , o Ge-JAL e a ABCM sempre promovem eventos que visam a troca de experiência mútua, afinal não são poucos os desafios  que as artropatias da ATM impõe tanto aos profissionais como aos pacientes que sofrem com estas condições.

Fiquem atentos às novidades da área!