Síndrome da dor miofascial e DTM/ATM

Muitas pessoas que sentem dor em alguma parte do corpo, especialmente na face, recebem um “diagnóstico” de Síndrome Dolorosa Miofascial ou Síndrome da Dor Miofascial (SDM). Mas o que vem a ser essa síndrome? Dá para realmente chamar isso de diagnóstico? Qual a relação com a disfunção da ATM  (DTM)?  O que fazer se seu médico/dentista lhe disse estar com SDM?

O que significa “síndrome”?

Bom, para responder essas perguntas, primeiro temos de entender alguns conceitos em questão. Tomemos inicialmente a expressão síndrome,  a que ela se refere?

A definição que encontramos para essa expressão na wikipédia é a seguinte:

Síndrome é o agregado de sinais e sintomas associados a uma mesma patologia e que em seu conjunto definem o diagnóstico e o quadro clínico de uma condição médica.

Em geral são sintomas de causa desconhecida ou em estudo, que são classificados geralmente com o nome do cientista que o descreveu ou o nome que o cientista lhes atribuir. Uma síndrome não caracteriza necessariamente uma só doença, mas um grupo de doenças.

De fato, quando passamos a conhecer a causa, normalmente a expressão sindrome é substituída pelo nome da doença identificada. Um exemplo bem conhecido é o da síndrome de Down, que foi descrita pela primeira vez em 1862, pelo conjunto de seus sinais e sintomas, mas que ao ter a sua causa descoberta quase um século depois ( um distúrbio genético no cromossomo 21) passou a ser denominada de trissomia do cromossomo 21.

Síndrome da Dor Miofascial

Tomemos agora a expressão miofascial. Muitos pensam que isso tem a ver com a face, o rosto, mas não. Miofascial vem de  mio = musculo + fáscia = uma membrana (fáscia) de tecido conectivo. Ou seja miofascial se refere ao músculo e à membrana de tecido conectivo/conjuntivo que o envolve e é encontrado em todo o  corpo. A SDM é caracterizada justamente pela presença de muitos pontos-gatilhos nos músculos (conhecidos como trigger points, em inglês) e inflamação da fáscia muscular.

Síndrome da dor miofascial e a presença de pontos-gatilhos (trigger points)

Síndrome da dor miofascial e a presença de pontos-gatilhos (trigger points)

Assim, quando um profissional de saúde diz que alguém tem uma sindrome dolorosa miofascial,  está apenas utilizando uma forma mais elegante de dizer que seus músculos (e os tecidos ao redor) estão doloridos e ele não tem a menor ideia do que está causando o problema!

Parece meio absurdo, mas isso não é culpa do profissional de saúde, aliás, não é algo pelo qual  alguém possa ser culpado.

Simplesmente essa é uma das formas pelas quais as ciências da saúde evoluem.  Nesses casos, a sequência costuma ser a seguinte: algum profissional nota um certo número de sinais e sintomas, em um paciente, que parecem estar relacionado entre si, verifica na literatura se alguém ja descreveu algo similar (hoje isso é mais fácil com a internet!) e caso não tenha sido, o indivíduo publica tal descrição normalmente sob a forma de uma síndrome. À medida que essa síndrome desperta atenção da comunidade científica, seja pela frequência  que ocorre, seja pelas implicações na vida de um individuo ou em termos de saúde pública e outros casos venham sendo publicados, o assunto ganha espaço nos centros de pesquisa e passa a ser estudado através de metodologias específicas para isso, como estudos de caso-controle, cortes, dentre outras técnicas que sejam adequadas à natureza do problema em questão.

À medida que  novas descobertas vão sendo realizadas, muitas doenças vão ganhando nomes e sendo afastadas do grupo agregado sób a égide das síndromes.

Qual a relação da síndrome dolorosa miofascial com a DTM?

No campo das dores que afetam a face, muitas vezes se torna difícil separar o que é uma “DTM muscular” e o que são sintomas de uma SDM. Nestes casos, as dores musculares da ATM precisam ser investigadas para saber se há algum tipo de artropatia temporomandibular (uma doença da articulação) causando o problema. Também é importante verificar se há o mesmo padrão (ou similar) de dor em outras partes do corpo como braços e pernas, pois se houver, é um indício de que há um problema sistêmico e não apenas só na ATM.

Um fato interessante sobre ambas as condições é a relação com um processo inflamatório muscular que pode muitas vezes ser influenciado, ou mesmo controlado, por uma alimentação anti-inflamatória. Em outros casos, o programa nutricional anti-inflamatório pode ser insuficiente, por haver alterações em outros órgãos como pâncreas, tireoide e glândulas adrenais, gerando quadro de dores musculares, edema e fraqueza que em muitos pacientes é “diagnosticada” como uma SDM. Nesses casos é importante que o médico proceda uma avaliação detalhada para detectar possíveis causas.

Se não houver nenhuma causa detectável, aí sim, o quadro deve ser encarado como uma  SDM “pura” e tratado da melhor forma possível, que muitas vezes será à base de medicações paliativas para controle da dor.

Nos pacientes com uma disfunção na ATM misturada ao quadro da síndrome da dor miofascial, uma abordagem conjunta junto ao médico e ao nutricionista é fundamental.

Fique esperto(a)!

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