Frequentemente recebo e-mails ou comentários aqui no blog, mencionando um tipo de situação que é a seguinte:

A pessoa faz um tratamento ortodôntico mas que no decorrer do mesmo desenvolve sintomas de uma disfunção da ATM.  Ao relatar ao dentista, este entra com um tratamento à base de  remédios, compressas e exercícios, eventualmente algum tipo de placa oclusal também e, em muitos casos, o paciente até melhora. Posteriormente, ao retomar o tratamento ortodôntico, os sintomas da DTM retornam e o paciente fica confuso ou mesmo angustiado.  O que acontece em casos assim?

Bom, em casos assim, o que ocorre é que o problema foi tratado apenas de maneira paliativa, enquanto que as alterações patológicas que levaram à DTM continuam progredindo. Muitas vezes, o dentista até identifica alguns problemas através de exames de imagem, como ocorreu no caso do link no início desta postagem. Entretanto, tradicionalmente no Brasil, o foco do tratamento da disfunção da ATM é o controle da dor e esse é apenas um dos aspectos  dos distúrbios da ATM que devem ser considerado. Há outros mais.

Não há problema em tentar controlar a dor com remédios, exercícios, etc., entretanto essa abordagem não deve substituir a pesquisa do diagnóstico do problema. Por exemplo, se na situação descrita acima, a paciente desenvolve um processo degenerativo nos côndilos da ATM, como é que esses recursos de controle da dor influenciarão o curso da doença? Será que ajudará a conter o avanço do processo ou o efeito será indiferente? Ou pior, e se contribuir para o aumento das lesões?

É nesse ponto, que investigar em termos de PATOLOGIA da ATM se faz necessário. Aliás, esse tipo de investigação deveria ter sido feita ANTES do início da ortodôntia, afinal, já é bem conhecido na Odontologia, o fato de que um processo degenerativo na ATM conduz a uma instabilidade oclusal importante, muitas vezes provocando a recidiva de problemas como mordida aberta e retrusão mandibular. Nesses casos, o que estiver acontecendo nas ATM´s poderá ser bem limitante para o sucesso da ortodontia.

Na figura abaixo, pode-se ver um caso de mordida aberta desenvolvida em paciente que já fez ortodontia mas não foi tratada a lesão da ATM. A ressonância magnética da ATM (logo em seguida) mostra um acentuado processo degenerativo articular com lesão da estrutura e posição do disco.

Moridada aberta em paciente que já fez ortodontia mas não foi tratada a lesão da ATM

Um exemplo clássico para a situação em questão, são os casos de pacientes que possuem alguma doença reumática de base (ou apenas uma tendência genética) mas que aparece com os sintomas no meio do tratamento ortodôntico. Se essa condição é diagnósticada corretamente, as limitações do resultado do tratamento incluindo aí a limitação do controle da dor, poderão ser esclarecidas ao paciente bem como toda a programação terapêutica pode ser modificada, afinal é uma grande ingenuidade  proceder um controle da dor com remédios e excercícios e achar que isso será o suficiente para “resolver” o problema e terminar o tratamento ortodôntico.

Ora, a própria medicina tem suas limitações para controlar processos degenerativos articulares causados por doenças reumáticas, como é que isso poderia ser tão simples na odontologia? Aliás, não seria! E o problema irá retornar e por a perder todo o trabalho do ortodontista!

Além disso, estando o paciente ciente das limitações do caso, ele não terá expectativas além daquelas realmente possíveis de serem atingidas, evitando desconforto, angústias e tritos no relacionamento com o dentista.

Por outro lado, se esse processo degenerativo do exemplo da situação criada aqui nesta postagem for causado por algo não tão complexo como uma doença reumática, a exemplo das sequelas pós-traumáticas, a correção biomecânica e funcional da ATM poderá ser menos limitada e a ortodontia poderá ter uma estabilidade muito maior, mas de igual forma, o tratamento não será apenas o controle da dor.

Portanto, sinais e sintomas que aparecem no decorrer de um tratamento ortodôntico não deve ser negligenciado. Em realidade, se um paciente já tiver tais sinais e sintomas, nem deve ser iniciado um tratamento ortodôntico até que se tenha compreendido, controlado ou estabilizado o quadro patológico da ATM.

Fique esperto!