Continuando a série “Oclusão e disfunção da ATM”

6. O que se sabe atualmente dessa relação entre oclusão e DTM?

Processo degenerativo na ATM

Fig. 1 Processo degenerativo no côndilo da ATM

Bom, sabe-se hoje que em boa parte das situações, a oclusão dentária sofre as CONSEQUÊNCIAS do que ocorre na ATM.  Como exemplo, podemos citar um fenômeno conhecido, que é o fato de que um traumatismo no queixo pode produzir uma má oclusão aguda, devido à um “derrame” (edema/inflamação) na articulação que impede o côndilo mandíbular de  se acomodar na cavidade articular e consequentemente de encaixar os dentes. Outros exemplos clássicos são: as assimetrias do terço inferior da face com inclinação do plano oclusal (é um desvio lateral da posição do queixo e dos dentes) em casos onde há um deslocamento de disco de um lado só; a mordida aberta provocada por uma artite reumatóide juvenil ou mesmo por qualquer outro tipo de processo degenerativo que afete a ATM, como já expliquei em outras postagens. E há ainda muitas outras situações que abordarei em outra oportunidade. Nas Figuras 1 e 2 pode-se observar um caso de  mordida aberta que recidivou após correção ortodôntica, pois não havia sido detectado o processo degenerativo articular.

Mordida aberta produzida por reabsorção da ATM

Fig.2 Mordida aberta anterior produzida pela reabsorção do côndilo da ATM (bilateral) .

Há também algumas situações onde os dentes é que são responsáveis por uma alteração do funcionamento mandibular. Cientificamente, sabemos que os dentes, através dos ligamentos periodontais que os sustentam no osso, são também proprioceptores posturais da mandíbula. Isso quer dizer que ao apertar os dentes de uma forma incômoda, os ligamentos enviam uma aviso para o cérebro que aciona os músculos para ajustar a posição da mandíbula. Esse é o mecanismo que leva a gente a tomar um susto (reflexo) e abrir imediatamente a boca ao moder, desavisadamente, uma pedrinha no feijão, por exemplo.

Durante a oclusão, na fração de segundo que os dentes vão se tocando, os músculos, principalmente os temporais que são os responsáveis pela coordenação motora fina, vão ajustando a mandíbula de modo a obter o encaixe final. Assim, um desarranjo nessa superfície de contato entre os dentes superiores e  inferiores, pode modificar a forma como os músculos trabalham no instante do encaixe dentário.

Num trabalho publicado na revista Cranio o pesquisador verificou através de eletromiografia (uma tecnologia que permite a leitura da atividade dos músculos), que a introdução de interfências dentárias no processo de oclusão produzia alteração em difrentes grupos musculares mastigatórios, inclusive  em músculos auxiliares da mastigação e posturais da cabeça que se situam no pescoço e ombros. Mostrando que a musculatura responde aos estimulos produzidos no decorrer do encaixe dentário.

Outro exemplo é a utilização de interferências dentárias planejadas para mudança da posição mandibular, que o pessoal da ortopedia funcional dos maxilares utilizam em seus tratamentos. Essas interferência modificam o comportamento muscular que movem a articulação têmoporo-mandibular, resultando em um novo posicionamento mandibular.

Ligamento periodontal

Ligamento periodontal

Além disso, sabe-se que uma interferência dentária patológica no trajeto de fechamento mandibular produz discrepâncias funcionais a nível muscular, por exemplo, um dor de cabeça nas têmporas que tenha aparecido logo depois de ter feito uma restauração que tenha ficado mais “alta”  e  que ao ser removida desaparece completamente. A posição tridimensional das guias caninas e incisiva e não apenas a inclinação delas (para os dentistas que estejam lendo, não confundir isso com os conceitos de desoclusão por guia canina ou incisiva oriundos da gnatologia, leiam a quarta parte desta série). Dentre outros fatores.

Veja também:

> Primeira parte

> Segunda parte

> Terceira parte

> Quarta parte